Prevenção de lesões no futebol americano: uma breve análise dos resultados do programa do América Locomotiva em 2018

Foto por Rodrigo Coelho
Foto por Rodrigo Coelho

Uma grande dificuldade das equipes de Futebol Americano no Brasil são as lesões. Elas geram perdas de jogadores durante a temporada, que acarretam queda de performance individual e da equipe, diminuição de plantel disponível e em alguns casos “aposentadorias” precoces em função das alterações físicas e psicológicas que uma lesão gera. E, na maioria das equipes, não existem profissionais responsáveis apenas por prevenir estas ocorrências.

O América Locomotiva não fugia deste quadro: em 2017, 48% da equipe principal se ausentou pelo menos 1 jogo na temporada, sendo que ela foi relativamente curta, com 6 jogos apenas. Além disto 75% da equipe treinava com dores, o que gera perda de confiança corporal e queda de rendimento nos treinos/jogos.

 

Linha de atletas ausentes durante treinos e jogos em função de lesões em 2018

 

Em função disto, no início de 2018, a equipe fechou uma parceria com o Fisioterapeuta Raphael Salgado. Especialista em Fisioterapia Esportiva, amante do esporte e da sua área de atuação, ele já trabalhava com alguns atletas da equipe desde 2016, com bons resultados, o que levou ao interesse da equipe e do Raphael.

O trabalho desenvolvido baseou-se primeiro no histórico dos atletas (lesões, posição, dores), associado aos dados colhidos através de avaliações funcionais de todo o elenco. Foi criado um PROGRAMA DE PREVENÇÃO DE LESÕES NO FUTEBOL AMERICANO, projeto inovador no FABR, onde, a partir dos dados colhidos e dos estudos sobre incidência de lesões no esporte, criou-se 4 formas de intervenção na equipe: Exercícios individuais de prevenção, exercícios em grupo, acompanhamento de treinos e jogos e trabalho de recuperação dos atletas pós jogos.

  1. A partir de um quadro de exercícios criados com base em programas já conhecidos (FIFA+ e CBB), os atletas foram orientados a fazer semanalmente os exercícios indicados a cada um deles, com foco em suas necessidades.
  2. Antes dos treinos, a equipe realizava exercícios comandados pelo fisioterapeuta, com o foco na mobilidade, estabilidade, ativação central e específica.
  3. Acompanhamento da equipe, em treinos, jogos e viagens, agilizando atendimentos e retorno dos atletas as atividades.
  4. Trabalho de recuperação corporal (recovery) imediatamente pós atividades, agilizando recuperação corporal dos atletas e minimizando os efeitos lesivos das altas demandas dos jogos e viagens.

 

Programa de exercícios passado aos atletas

 

Com estas atividades durante o ano, encontrou-se dados bem significantes:

  • A equipe teve uma média de 7,9% de ausências de atletas do plantel em jogos. O que significa uma diminuição de 53% em relação a 2017!
  • Apenas 26% da equipe teve alguma lesão que gerou afastamento de partidas (48% em 2017, sendo 6 partidas em 2017 e 10 partidas em 2018).
  • Apenas 03 lesões por sobrecarga durante o ano, o que corresponde a 18% de ausências, ou seja, a grande parte das lesões foram por contato/trauma, o que dificulta sua prevenção. As lesões “controláveis” foram minimizadas a menos de 5% dos atletas.
  • Na última partida da temporada (contra o Tritões nos Playoffs), apenas 4 atletas – 6% da equipe, não tinha condições de jogo, gerando um plantel quase completo para viajar e jogar a partida mais importante do ano.
  • Segundo os atletas, 85% deles se sentiam mais bem preparados e confiantes após os exercícios pré treinos, o que gera melhoras físicas e mentais, gerando aumento de performance e resultados.

Em resumo, a equipe teve quase a metade dos problemas com lesões em relação ao ano anterior, conseguindo ter os atletas disponíveis durante toda a temporada!

A Fisioterapia Esportiva, principalmente na parte de prevenções de lesões, mostra-se uma grande aliada das comissões técnicas e equipes de gestão no crescimento do FABR. Evoluir o trabalho do fisioterapeuta de “apenas” uma reabilitação, para a presença diária do profissional em campo, é fundamental, principalmente associado ao preparador físico.

O América Locomotiva é um exemplo disto. A equipe cresceu muito na sua gestão, gerando melhor estrutura para seus atletas treinarem e jogarem com mais segurança e confiança. A presença da equipe nos Playoffs, após uma temporada histórica e um plantel quase completo durante o ano, demonstram o sucesso do programa.

Por Raphael Salgado

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